quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nas Gavetas de Clarice



Por Lee Carvalho

Documentos, cartas, manuscritos. Lembretes para seus livros em pedaços de papeis rasgados, fotos e cartas ao presidente da república. Estas são as surpresas da exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa; A hora da Estrela, sobre a vida e obra de Clarice Lispector.
A tarefa do museu é introduzir o público no universo e na subjetividade de autores que fizeram da escrita seu mundo particular. E poucos escritores de nossa língua criaram um estilo tão pessoal quanto esta escritora ucraniana brasileiríssima, que pensava, falava, escrevia e agia em português.
O foco da exposição é a palavra da escritora. Suas frases atordoantes, sejam de seus livros ou de suas falas, estão espalhadas nas paredes e se casam com as fotografias que documentam a trajetória da escritora que nasceu em Tchetchelnik e morou em Maceió, Recife e no Rio de Janeiro.
Duas salas da exposição possuem as paredes cobertas por gavetas, do chão ao teto, como um imenso armário embutido. Quando as gavetas surpresas se abrem, o público mergulha na vida de Clarice.
Destaque para a sua correspondência. As cartas trocadas com grandes mentes da literatura brasileira nos revelam um pouco da intimidade de cada um: o gosto de Rubem Braga pelas mulheres, a insegurança de Carlos Drummond face à escrita poderosa da amiga, que sempre escrevia os livros que ele queria escrever e melhor.
O comprade Érico Veríssimo revela em uma de suas cartas que não suporta mais os mexericos desta gente pequena que frequenta a alta sociedade brasileira.
Outro momento lúdico é a exibição das imagens da entrevista de Clarice, feita por Julio Lerner em 1977. A voz grave da escritora é perturbadora, o tom, muito confundido com sotaque, é na verdade produto de sua língua presa e o olhar é de uma leoa que encara aquele que a arrancou de seu sono.
A exposição Clarice Lispector – A hora da estrela é uma homenagem à autora no trigésimo aniversário de sua morte. Esclarece alguns mistérios de Clarice, já que a explicação do enigma é a repetição do enigma e cria novos, algo bastante normal já que ela confessava ser um mistério para si mesmo.
A repetição do enigma, para quem ainda não o viu, se encerra neste domingo, dia 14, das 8 às 18 h, na estação de metrô Luz em São Paulo.

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